segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Comunidade Alecrim - TC de Agricultura I


Contextualização
            A Comunidade Alecrim é composta por cerca de oitenta famílias, fica no meio rural do Município de Girau do Ponciano, região agreste de Alagoas e possui duas escolas de ensino fundamental e outros ambientes comunitários, utilizados pela população e pelos gestores públicos. Embora tenha uma equipe técnica do Programa de Saúde da Família (PSF) não existe posto de saúde e a equipe atende em uma casa alugada pela prefeitura municipal há pelo menos cinco anos. Com relação à educação, cabe registrar que a prefeitura municipal mantém salões particulares alugados para atender parte dos alunos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), já que as duas escolas não comportam todos os alunos matriculados. Segundo relatos, apesar das promessas políticas, essas salas improvisadas se mantêm há anos, sem as condições apropriadas para o funcionamento. Entende-se que essa questão é séria e precisa ser debatida, de forma ampla e em vários espaços políticos – particularmente no âmbito da academia – pois é comum na região, apesar da disponibilidade de recursos financeiros públicos para investir nas escolas rurais e urbanas, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
Na Comunidade Alecrim não tem sistema de abastecimento de água e nem de saneamento. A Articulação no Semiárido (ASA) está construindo cisternas para a coleta e o armazenamento de água de chuva, já que as famílias não dispõem de fontes seguras de água e até as escolas são abastecidas semanalmente pela prefeitura municipal, com água de outras localidades, por meio de carros pipa que depositam a água em cisternas. Há lixo depositado em vários lugares e o acesso é difícil por conta das estradas que não são pavimentadas e pela precariedade dos serviços de transporte públicos. As alunas utilizam suas próprias motos ou serviços de motoqueiros para participarem das aulas e retornarem a tempo às suas casas, em percursos longos e onerosos, que demandam tempo e esforço delas e das suas respectivas famílias, diretamente envolvidas nessa caminhada para conclusão dos estudos de nível superior.

2 – Apreensões e Percepções
A segunda aula do Tempo Comunidade foi realizada no dia 31 de agosto de 2012, na Escola Genoveva Maria, com a participação de professores/as dessa escola, convidados/as para o debate acerca dos temas Agricultura e Sustentabilidade no Semiárido, a partir da mostra comentada dos vídeos “Colher Água, Plantar Vida e “Água, Vida e Alegria no Semiárido”, ambos produzidos pela ASA. Também esteve presente e participando ativamente a professora Cristianlex Soares, que colaborou muito na mediação dos debates, provocando e promovendo a aproximação entre as experiências mostradas nos vídeos, das práticas educativas e das perspectivas de transformação das realidades, a partir do ingresso destes/as no Procampo. O que a Educação Contextualizada e o Procampo têm a ver com o Desenvolvimento Local e a Convivência com o Semiárido? E quais as possíveis mudanças que os/as professores/as podem provocar nos seus respectivos ambientes de trabalho e nas comunidades em que vivem? Essas duas perguntas orientaram os debates acerca dos papeis e responsabilidades de cada educador/a na gestão dos processos de melhoria dos ambientes e dos espaços públicos, particularmente das escolas onde cada educador/a atua.
Partindo das provocações, vieram à tona algumas questões presentes no cotidiano que permitem enxergarmos a necessidade de aliarmos os conceitos com as práticas, melhorarmos nossas ações pedagógicas e transcendermos nossos sentidos e sentimentos para assumirmos compromissos mais ousados e condizentes com cada realidade e ampliarmos a visão acerca das estratégias de desenvolvimento que já se materializam em outros municípios e em outras comunidades e escolas da região, com seriedade e participação de todos os segmentos sociais. Nessa direção, é possível apontar que as experiências expostas nos dois vídeos e os depoimentos da professora Cristianlex acerca das novas motivações e práticas da educação no Município de Igaci motivaram as alunas do Procampo e os/as professores/as da Escola Genoveva a discutir acerca das suas práticas e a perceber a necessidade de construção de novas relações entre alunos/as, pais e mães, escolas, gestores públicos e as comunidades em geral, na tomada de decisões coletivas para que as transformações possam se materializar e sedimentar a educação como um dos caminhos para a autonomia das pessoas e das suas organizações.
Vinculando as experiências e informações mostradas nos dois vídeos e as possibilidades e necessidades de mudança nas escolas, foram apontadas algumas estratégias, que partiram das observações empíricas e da percepção da falta de algumas iniciativas simples que poderão trazer resultados positivos para as escolas e para as comunidades. Especificamente para a Escola Genoveva foram apontadas como possíveis ações: a) instalação de bicas para coleta de água de chuva em toda a área coberta e armazenamento dessa água na cisterna, para ser tratada e utilizada de forma diversa, conforme as determinações internas, pois atualmente a escola é abastecida semanalmente por meio de carro pipa, o que gera uma relação de dependência e subalternidade com a prefeitura municipal; b) plantio de espécies frutíferas e medicinais no pátio, que tem uma aparência estéril, pela falta de plantas, sombras, aves e vida; c) reuso das águas da lavagem dos utensílios e do preparo dos alimentos na irrigação das plantas; d) melhoria das instalações sanitárias, com a limpeza e manutenção dos banheiros, pois é evidente a necessidade de mudança desses ambientes, de suma importância para a saúde da comunidade escolar.
Essas estratégias foram apontadas como exeqüíveis, porém não provocaram entusiasmo na turma que não demonstrou interesse em pensar e planejar as intervenções naquela escola e nas outras do município e tais observações remetem a outras que se complementam, sinalizando certa comodidade por parte das alunas, que ressaltam com freqüência o fato de a prefeitura garantir o abastecimento de água e os produtos para preparo da alimentação escolar – embora tenha faltado merenda no primeiro semestre do corrente ano de 2012 que só foi regularizada depois de várias denúncias anônimas nas rádios e no Ministério Público.
A aparente comodidade de algumas alunas já havia se manifestado em outros momentos, quando se tratava da precariedade das estradas de acesso, do abastecimento de água nas casas e nas escolas e das próprias instalações das escolas daquela comunidade e vem carregada de outras questões delicadas como a conivência com tais situações e a ‘defesa’ dos gestores públicos, que mantém salas de aula em armazéns, salões e salas que não comportam os/as alunos/as, bem como postos de saúde em locais impróprios. São situações criadas em caráter provisório que se estendem durante anos, com serviços parcos e precários, portanto, considerados normais e aceitáveis pela população local que aparentemente não discute e debate com os gestores públicos, as possíveis estratégias de melhoria. Como estamos tratando de relações frágeis e politicamente arraigadas por conta dos contratos formais e informais que mediatizam tais relações, parece prudente apontar alguns aspectos visíveis nesse contexto:
§  São completamente diferentes as opiniões daquelas alunas que participam de movimentos sociais, assentadas de reforma agrária e que não tem vínculos com as prefeituras, daquelas que são professoras, que tem salões alugados à prefeitura e parentes trabalhando temporariamente na educação, na saúde e em outros setores públicos, mesmo sem contratos.
§  As alunas que participam de movimentos sociais e que não tem vínculos políticos e empregatícios com a prefeitura são mais críticas, mais atentas a essas e outras questões e tem mais práticas em reivindicar e debater em todas as instâncias políticas. Essa mesclagem é importante porque amplia os discursos e chama a atenção para os compromissos que os/as educadores/as deverão assumir perante a sociedade, independente das relações com os gestores públicos.
§  Os textos, os vídeos apresentados e os debates gerados nas dinâmicas do Procampo estão influenciando determinadas mudanças de atos e de atitudes nos/as alunos/as, pois os temas tratados e os trabalhos de avaliação solicitados e orientados pelos/as professores/as são complementares e vêm reforçando a lógica da construção de novos conhecimentos a partir de novas práticas pedagógicas. Tais constatações vêm sendo reveladas a cada encontro com a turma e ficou mais evidente nessa aula, quando foi abordado o trabalho solicitado pela professora Cristianlex, de realização de Diagnósticos Rurais Participativos, por meio da Metodologia DRP.  
§  Os Diagnósticos vão ser realizados nas comunidades dos/as alunos/as e segundo depoimentos, os assuntos tratados se entrecruzam e se complementam, ampliando, assim, a visão de quem está estudando e ensinando ao mesmo tempo, com acesso a um novo leque de informações e de oportunidades de melhoria das práticas nas escolas do campo.
§  Entende-se por novas práticas pedagógicas, o uso de vídeos e textos apresentados e debatidos em sala pelos/as alunos/as nas suas respectivas escolas e o interesse destes/as por novas informações acerca de economia solidária, convivência com o semiárido, agricultura familiar, crédito rural, reforma agrária, desenvolvimento local, associativismo e a aplicação dos novos conhecimentos nas escolas, associações comunitárias e em outros espaços políticos, por meio dos trabalhos cotidianos de ensino, extensão e mobilização social desencadeados nas comunidades.
§  É comum escutarmos nas aulas que alguns vídeos e textos estão inspirando as aulas e os trabalhos de extensão e capacitação feitos pelos/as alunos/as em suas respectivas instituições e essa constatação deixa a sensação de que nosso papel está sendo cumprido, apesar de registrarmos a necessidade de mais encontros e debates políticos entre a equipe de professores/as do Procampo.
§  Também parece ser uma preocupação dessa equipe de professores/as a disposição de mais tempo para socializarmos as experiências empíricas, discutirmos acerca dos temas e das perspectivas de mudanças percebidas em sala e nas comunidades, bem como as responsabilidades atribuídas ou que deveriam ser atribuídas à turma, considerando que a maioria é de educadores/as e que estes/as precisam melhorar suas práticas e participar mais ativamente dos espaços políticos locais para que novas dinâmicas sejam construídas no âmbito da educação contextualizada, já que estão inseridos/as num programa de educação do campo, que valoriza as relações e dinâmicas do meio rural e suas interações com o meio urbano e a sociedade de forma geral.

3 – Metodologia
A aula teve dois momentos, que orientaram os debates para conclusão do ciclo de aulas da Disciplina Agricultura I. No primeiro momento fez-se a rememoração dos conceitos, princípios e experiências práticas dos assuntos tratados anteriormente e a apresentação comentada do vídeo “Plantar Água, Colher Vida” e no segundo momento o vídeo “Água, Vida e Alegria no Semiárido!” – composto por oito filmes – provocou um debate interessante, a partir destas duas questões: Quais os pontos relevantes de cada filme? Como poderemos discutir esses conteúdos nas nossas aulas?
            Para comentar os filmes as pessoas foram escolhidas aleatoriamente entre os/as professores/as da Escola Genoveva e as alunas do Procampo, mas a participação foi bem mais ampla do que se esperava e todas as pessoas presentes acharam os filmes interessantes pelos assuntos tratados e especialmente pela forma abordada, com desenhos animados feitos por crianças; personagens, figuras, questões e paisagens presentes no nosso cotidiano e pela linguagem direta e de fácil assimilação pelas crianças e pelos jovens da educação básica.
            Esses os aspectos renderem um bom debate acerca dos instrumentos e dos recursos didáticos e pedagógicos atuais – a exemplo dos vídeos disponíveis gratuitamente na internet e em vários espaços públicos – e das possibilidades de ensinarmos geografia, história, matemática, português, biologia e outras tantas disciplinas, a partir de vídeos e de outras ferramentas que possam mobilizar os/as alunos e provocar discussões e construir olhares mais críticos sobre a sociedade, o ambiente, a política e outros fatores que condicionam a melhoria dos processos educativos, de suma importância para o Desenvolvimento Local, a Convivência com o Semiárido, a Agricultura Familiar e a Educação do Campo.

4 – Considerações Finais
            O tempo foi pouco para tanta discussão, tantas interpretações interessantes, mas os vídeos foram disponibilizados para a Escola Genoveva Maria e os/as participantes da aula foram orientados a vê-los com suas turmas e organizar aulas externas para conhecer as experiências apresentadas, particularmente aquelas desencadeadas por agricultores alagoanos que já vivenciam novas perspectivas em suas vidas, com o processo de transição agroecológica, a gestão racional da água, da terra e dos demais meios de produção e a inserção em redes de mobilização social e o acúmulo de saberes que são apresentados e disponibilizados para outros agricultores e pessoas de todos os segmentos que se mostrarem interessadas.
            De modo especial, a experiência da família do Sr. Dedé com a gestão de uma barragem subterrânea e a produção orgânica de hortaliças no meio rural do Município de São José da Tapera chamou muito a atenção de todos/as e reforçou a vontade de irmos conhecer essa família, já manifestada na visita técnica à Feira Popular da Agricultura Familiar, realizada em Arapiraca, no último dia 25 de agosto, com a participação louvável do Sr. Sebastião Damasceno, agricultor familiar em transição agroecológica do Município de Santana do Ipanema, que nos deu uma aula prática a respeito da gestão familiar da produção agropecuária na região semiárida, destacando a importância da Policultura, da Apicultura e dos Bancos Comunitários de Sementes.
            Com base nas experiências mostradas nos vídeos e nos depoimentos é possível reafirmar nosso interessem em conhecermos de perto as experiências dos dois agricultores citados, para ampliarmos nossa visão acerca destes e das outras questões que compreendem os vários contextos da Agricultura Familiar.
            A viagem para conhecermos essas experiências será tratada e organizada com a turma durante as aulas da Disciplina Agricultura II e lançará pistas para novas investigações empíricas e científicas nessa região.

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